sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Anorexia

Matei uma amiga minha de rir. Ela me pergunta: " como estás?" e eu respondo: "gorda como uma porca".
Adoro algumas expressões desse tipo. Gosto de uma que é : "fulano parece uma porta". Tenho um amigo que chama todo mundo que é feio de "Mucura", e tudo pra ele é "Que cosa no?".
Mas voltando ao assunto do gorda como uma porta, realmente, estou com o paladar um pouco, quer dizer, muito descontrolado. Esse lance de mudar de vida de uma hora para a outra, me fez optar por ganhar uns certos quilinhos que há algum tempo haviam desaparecido. E morro de rir quando dizem, "eita voltou a ter bunda", ou tipo, "finalmente carne".
Quem me viu anoréxica, lembra que eu estava pálida, o magra é natural, mas eu tinha um tom de pele cadavérico, meus olhos eram sempre fundos e eu perdia noites e noites de sono olhando para o nada, para não acordar com fome no outro dia. Nada entrava. Lembro que fui almoçar com meu ex, e eu comi exatamente meia colher de miojo e disse que não queira mais, que estava cheia. E assim eu passava dias à base de água e café.
Na última crise, eu passei 4 dias, sentada no mesmo lugar, olhando para a mesma Globo, e só atendia ao telefone se eu visse que era meu namorado na época. Se não, eu fingia que não sabia quem era, ou que não estava em casa.
No começo do quarto dia, eu decidi que era hora de ir ao banheiro. Quando me vi no espelho, eu me vi morta. E sozinha tomei a decisão de procurar ajuda. Até tentei que o mucura de meu ex-namorado fosse comigo ao médico, mas ele tinha uma "entrevista", e não poderia ma ajudar. Fui sozinha e ao chegar no consultório, eu simplesmente desmaiei. Eu estava com 37 kilos, desidratada e com a bexiga cheia. Tinha a pele fria, mas o corpo ardia com 38 graus de febre e meu coração estava acelerado. Meus cabelos caíam e eu tinha as unhas todas comidas e sangrando. Era uma cena deprimente, eu nunca em minha vida imaginei que passaria por isso.
O que começou com uma dieta básica e a perda de 15 kilos, passou a a ser meu maior pesadelo.
Hoje quase 2 anos depois, eu me olho e agradeço pela vida. Pode parecer doença de fresco, mas não é. A anorexia mata e eu sei que quase me matou. Eu pouco falo sobre isso, por sentir vergonha, por me arrepender, por ser discriminada, porque eu fui discriminada várias vezes, porque o anoréxico ele fica feio, toma banho, mas o cheiro de carne colada ao corpo permanece.
Por isso hoje eu me sinto feliz gorda como uma porca, e como com prazer, sem gula, mas como exatamente para não ter que sofrer o que eu sofri. Eu não desejo nem ao meu inimigo. Não quero ser exemplo para ninguém, mas quem puder evitar esse sofrimento, que o evite. Para poder ter uma vida melhor!.